terça-feira, 22 de maio de 2012

Happening, Performance e Body Art

Artes visuais ultrapassam os suportes clássicos

Valéria Peixoto de Alencar*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
 
No início do século 20, quando as vanguardas europeias passaram a questionar a arte produzida pela academia e, por que não dizer, questionar a própria arte, elas estavam iniciando um caminho que possibilitaria a proposição de novos suportes para as artes visuais - novas formas de produção artística que iam além da pintura na tela, ou da escultura em mármore ou bronze, por exemplo.

O que veremos aqui são algumas manifestações e suportes inusitados de artistas contemporâneos para expressão visual: o happening e a performance.

Relação com o teatro

Essas duas formas de expressão nas Artes Visuais apresentam uma estreita relação com o teatro.

Segundo o poeta e artista plástico Jean Jacques Lebel, o happening "é arte plástica, mas sua natureza não é exclusivamente pictórica, é também cinematográfica, poética, teatral, alucinatória, social-dramática, musical, política, erótica e psicoquímica. Não se dirige unicamente aos olhos do observador, mas a todos os seus sentidos".

O happening (ou acontecimento) diferencia-se da performance pela fundamental participação do público, o que gera um caráter de imprevisibilidade. No que se refere à performance, ela é mais cuidadosamente elaborada e pode ou não ter a participação dos espectadores. Neste último caso, a performance pode ser registrada e documentada em fotografia e/ou vídeo - e este ser o produto do trabalho a ser exibido.

O termo happening foi utilizado como modalidade artística pela primeira vez, em 1959, pelo artista Allan Kaprow. Outros artistas importantes são Claes Oldenburg e o compositor John Cage.

A performance como modalidade artística surgiu na década de 1960, com o grupo Fluxus. Um artista muito importante deste grupo foi o alemão Joseph Beuys.

 Joseph Beuys. Eu amo a América e a América me ama, 1974
Na performance Eu amo a América e a América me ama, Beuys ficou por três dias sob um feltro em uma sala com um coiote. O coiote é um pequeno lobo, considerado como um símbolo mágico por alguns povos indígenas norte-americanos. O contato que o artista tenta estabelecer com o animal pode levar a diversas interpretações e pensamentos, como, por exemplo, a invasão das terras indígenas e o extermínio dessas populações versus a ideia de "América, a terra das oportunidades"...

No Brasil, alguns dos artistas que se destacaram ou continuam se destacando em happenings e performances são Flávio de Carvalho, Wesley Duke Lee, José Aguilar, Nelson Leirner, Carlos Fajardo, entre outros.

Body art

Body art, ou a arte do corpo, não se limita apenas a fazer algumas tatuagens. O artista do corpo utiliza a si próprio como suporte para expressar suas ideias. O corpo é encarado em sua materialidade (sangue, suor, química e física do corpo), como um vasto campo de possibilidades criativas.

Tatuagens, maquiagens, escarificações, travestimento, etc. são formas de modificar o corpo.

  Youri Messen-Jaschin. Halloween, 1998
Em alguns casos, a body art pode assumir o papel de ritual ou apresentação pública, aproximando-se de outras formas de manifestações, como o happening e a performance. Outras vezes, sua comunicação com o público se dá através de documentação, por meio de vídeos ou fotografias.

Minimalismo

A palavra minimalismo se refere a uma série de movimentos artísticos e culturais que percorreram diversos momentos do século XX e que preocuparam-se em se exprimir através de seus mais fundamentais elementos, especialmente nas artes visuais, no design, na música e na própria tecnologia. O minimalismo nas artes plásticas surge após o ápice do expressionismo abstrato nos Estados Unidos, movimento esse que marcou a mudança do eixo artístico mundial da Europa para os Estados Unidos. Contrapondo-se a esse movimento, o minimalismo procurava através da redução formal e da produção de objetos em série, que se transmitisse ao observador uma percepção fenomenológica nova do ambiente onde se inseriam. Exemplo desse projeto estaria nas obras de Dan Flavin, que através de tubos luminosos modifica o ambiente da galeria. O caráter geométrico demonstra forte influência construtivista, e a limpeza formal influência de Brancusi, mas o intuito dos artistas minimalistas difere radicalmente de ambos os casos.

 Sol Lewitt, Pirâmide VI, 1990

 Dan Flavin, Sem título, 1972/1975


 Sol Lewitt, Peça de canto, 1976

O minimalismo propriamente dito surgiu de artistas como Sol LeWitt, Frank Stella, Donald Judd, Dan Flavin e Robert Smithson. Muitos outros artistas contribuíram de maneira importante ao movimento, entretanto, estes parecem exemplificá-lo em suas diversas áreas.  A produção destes artistas, em geral, tendia a ultrapassar os conceitos tradicionais sobre a necessidade do suporte: procuravam estudar as possibilidades estéticas de composição não através de pinturas ou esculturas, mas a partir de estruturas bi ou tridimensionais que podem ser chamadas de "objetos" (ou ainda, "não-objetos", dada a sua inutilidade) e eventualmente de instalações. Desta forma, não se submetiam à limitação que se fazia entre o campo da pintura e o campo da escultura, indo além destes conceitos.

Um dos principais protagonistas da arte minimalista, Sol Lewitt criou, nos anos 60, estruturas compostas de elementos cúbicos ou derivadas do cubo, em variações organizadas sobre uma grade. Eram volumes simples, que convidavam o espectador um reconstruir o retrato mental das variações possíveis de uma figura.
Lewitt Trabalhou, em seguida, com murais, e detalhou as relações entre concepção e percepção, volume e superfície. Enquanto análise dos princípios fundamentais do desenho, essas obras refletem uma lógica das permutações e variações. A partir do final dos anos 1970, o artista concentrou-se em seus "Desenhos Murais", cada qual concebido para um local específico e refletindo as lições que ele extraiu dos afrescos da Renascença italiana e do designo. As cores tornaram-se mais dominantes nessas obras e as figuras foram tratadas como formas tridimensionais achatadas. Desde o início de sua carreira, Sol Lewitt dedicou-se a mudar nossa compreensão das convenções pela alteração de nossos sentidos.

Principais características do Minimalismo:

- Elaboração de obras (pinturas, esculturas, músicas, peças de teatro) com a utilização do mínimo de recursos;
- Utilização de poucas cores nas pinturas;
- Nas artes plásticas, destaque para o uso de formas geométricas com repetições simétricas;
- Criação de músicas com poucas notas musicais, valorizando a repetição sonora.

Também notáveis são os pós-minimalistas, incluindo Martin Puryear, Tyrone Mirchell, Melvin Edwards e Joel Shapiro. O ponto chave do pós-minimalismo são as frequentes referências distintas aos objetos sem representação direta. Isto tem se tornado uma linha predominante na escultura moderna.

Arte Postal


Correspondência com valor artístico

Na década de 1960, correspondências trocadas entre artistas plásticos deram origem a mais uma forma de expressão da arte contemporânea: a arte postal (mail art). Nessa mesma época, Ray Johnson cria, em Nova York, nos Estados Unidos, a Correspondance Art School (Escola de Arte por Correspondência).

Em 1963, Ray Johnson escreve uma carta num envelope, usando a frente e o verso. Ele rompe, assim, com o conceito de privado e reproduz, de maneira pública, dialogando com outra pessoa, a sua aparente intimidade.
A mail art consistia em trocar mensagens criativas utilizando o sistema de correios. Ela surgiu como uma alternativa aos meios convencionais das exposições de arte (Bienais, Salões, etc.) e tem características próprias do período em que apareceu (dialoga, portanto, com a Guerra Fria, no contexto mundial, ou com a ditadura militar, no contexto brasileiro). Ou seja, seu objetivo era veicular informação, protesto e denúncia.

A arte postal se caracteriza por ser um meio de expressão livre, no qual envelopes, telegramas, selos ou carimbos postais são alguns dos suportes em que é possível a expressão da sensibilidade. Os artistas utilizam, principalmente, técnicas como colagens, fotografia, escrita ou pintura. A única limitação real à utilização de diferentes técnicas e suportes é a possibilidade de envio dos trabalhos pelo correio.

Nos anos 60, a arte postal foi uma forma de expressão entre artistas que se conheciam. Porém, na década de 70, todos os interessados em fazer arte já podiam participar - e, a partir de 1980, museus e universidades começaram a valorizar a arte postal. No Brasil, a Arte Postal chegou num momento de censura, quando muitos artistas, para poderem se expressar, acabam aderindo à Arte Conceitual - e, portanto, a uma de suas formas, a Arte Postal. Um artista brasileiro que podemos citar é o pernambucano Paulo Bruscky, que organizou, em 1975, no Recife, juntamente com Daniel Santiago e Ypiranga Filho, a 1ª Exposição Internacional de Arte Postal, fechada pela censura do regime militar.

 

Arte postal em tempos de e-mail

E hoje em dia? Quase não escrevemos ou recebemos mais cartas, não é mesmo? Então, como esse tipo de expressão artística sobreviveria no mundo da não correspondência de papel? No final dos anos 80 o movimento de arte postal perdeu força, especialmente junto aos artistas que trabalhavam esse veículo como forma de protesto. No entanto, nos anos 90, a arte postal iniciou seu diálogo com as novas mídias. E foi na internet que os artistas encontraram um meio privilegiado para novas experimentações, inaugurando novas poéticas, novos canais de participação, de mobilização e de divulgação da arte postal.

Alguns Conceitos na Arte Contemporânea

Instalação: Ambientes ou cenas construídas com o objetivo de propor outra realidade espacial ou intervenções nas realidades já existentes. Numa instalação podem ser utilizados diferentes materiais e objetos e haver a integração de distintas linguagens artísticas. Até pessoas podem fazer parte de uma instalação. Uma instalação pode ser interativa quando um artista, ao criar sua obra, permite que o espectador se relacione com ela. As instalações podem ser feitas dentro de galerias de arte, museus e espaços expositivos, mas também em ambientes abertos. Quando o ambiente é natural, costuma-se chamar a obra de arte ambiental. Quando é urbano, de arte pública. Muitas instalações relacionam-se com o espaço que as envolve. Outras ainda são idealizadas especialmente para um determinado local. Nesse caso, designam-se, site specific, como as obras da Land Art.
 
Performance: Na performance, o artista utiliza o corpo como parte construtiva da cena. Trata-se de uma ação em que o espectador percebe múltiplas possibilidades em um tempo e um espaço específicos. A performance é uma manifestação artística contemporânea. Nela podem ser usadas diversas linguagens artísticas. Pelo fato de as performances serem efêmeras, seus realizadores registram por meio de fotos ou vídeos.
 
Happening: Em inglês, Happening significa, literalmente, “acontecimento”. Essa maneira de fazer arte pode ser definida como um conjunto de performances ou movimentos corporais teatralizados acontecendo ao mesmo tempo num espaço definido com antecedência. Geralmente essas ações ocorrem em lugares banais como a rua e o mercado conjuntamente com o espectador, promovendo uma aproximação entre cotidiano e arte.

Body Art: A body art é uma manifestação artística audaciosa, intensa e impressionante sobre seu único suporte: o corpo – do artista ou de modelo(s). Nela, o espectador pode apenas observar ou servir de modelo, ou ainda, interagir.
 
Vídeoinstalação: A videoinstalação é uma das formas de expressão mais complexas da arte contemporânea. O termo videoinstalação per se já indica que para “videoinstalar” artistas devem integrar objetos de naturezas diversas: componentes eletroeletrônicos, imagens luminosas, sons (a parte vídeo) e o corpo do visitante em uma configuração arquitetônica, em um tempo e um contexto designados (a parte instalação). Ao mesmo tempo em que ela mostra imagens em movimento, exigindo tempo de observação por parte do espectador, também o coloca em movimento, ao ocupar o espaço de forma tridimensional, convidando o espectador a optar por uma direção do olhar e a se relacionar com o ambiente onde se situa a obra, que pode contar com várias telas, monitores, além de outros objetos. Uma ação física já estaria aí sugerida a partir da própria configuração da obra e de sua inscrição no espaço. Mas não é só na atitude corporal que esta linguagem possibilita e faz ao espectador um convite a uma postura mais ativa e participante. Filha do casamento da instalação com a vídeo-arte, a vídeo-instalação atua no universo perceptivo do seu espectador, nele encorajando sua condição de criador e construtor de conceitos. É uma linguagem artística que propõe a participação do público.

Objeto artístico: A presença do objeto na arte começa nas "assemblages" cubistas de Picasso, nas invenções de Marcel Duchamp e nos "objets trouvés" (objetos encontrados) surrealistas. Em 1913, Duchamp instalou uma roda de bicicleta sobre uma banqueta de cozinha, abrindo a rota para o desenvolvimento dessa nova categoria das artes plásticas. Hoje em dia, os "ready-mades" —obras que se utilizam de objetos prontos— já se tornaram clássicos na arte contemporânea. Por aqui, a essas experiências começaram a ser realizadas somente nos anos 60, com os neoconcretos e neofigurativos.

Arte Contemporânea

Como entender o seu sentido?

Valéria Peixoto de Alencar*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Se levarmos em conta a origem da palavra arte ("ars" significa técnica ou habilidade), é curioso notar que há uma contradição: muitos artistas não expressam suas idéias através de uma habilidade técnica. Apesar de, muitas vezes, possuírem tais habilidades, estão preocupados em discutir outras questões, provocar outras reflexões.

Em 1913, momento das vanguardas européias, Marcel Duchamp propôs obras chamadas "ready-made", feitas a partir de objetos do dia-a-dia. O que ele fazia era apresentar esses objetos de forma descontextualizada e sem a possibilidade de serem utilizados. Por exemplo: um mictório no meio de uma sala, sem encanamento.

Com essa "provocação", Duchamp chamou a atenção para a arte produzida naquele momento. Ela não seria mais uma representação do real, como um retrato. Ela seria a própria realidade.

Quem decide o que é obra de arte
 
O objeto de arte não representa algo, mas ele é algo. Mesmo se o artista não tiver fabricado os elementos que compõem sua obra. Duchamp também questionava o conceito de arte como associado a um ideal de belo e à crítica de arte.

O objetivo da obra de arte, assim, era também promover o debate sobre a definição e a finalidade da arte.

Se não existe uma definição do conceito arte, quem afinal decide o que é obra de arte ou não?

Muitos são os fatores para classificar uma produção como obra de arte: o contexto histórico, o mercado de arte, a aceitação entre os artistas e, principalmente, a crítica.

Crítica de arte
 
A arte, como resultado de análise e avaliação, pode adquirir novas dimensões e formas de expressão por meio da crítica. Ela colabora para que a sociedade se mantenha atenta aos valores da arte no passado e no presente.

A crítica leva em conta o fato de que a arte é um produto da humanidade que expressa suas experiências e emoções através da linguagem.

A evolução dos conceitos artísticos, a transformação dos valores, são aplicáveis às diferentes formas: a literatura, o teatro, a dança, o cinema, a fotografia, a música e tantas outras que surgem, como a web arte.