segunda-feira, 11 de julho de 2011

Olhos nos olhos com Cláudio Tozzi

Cláudio Tozzi, o artista plástico - que já expôs na Alemanha, Estados Unidos, Japão, Colômbia, França, Itália, Espanha, Cuba, Dinamarca e em vários estados brasileiros - é autor de painéis de expressão em SP, como os criados para a Praça da República, Estações da Sé e Barra Funda do Metrô, entre outros.

De que maneira a Pop Art mudou o mundo?


A origem da Pop Art é quase uma ruptura com toda a arte produzida na Europa e nos Estados Unidos (início da década de 50). Em todos os salões e galerias, só se via artistas fazendo arte abstrata. Ao invés de pegar um vaso de flor ou uma abstração qualquer, essa arte se aproximou da linguagem cotidiana. Um artista pegava um objeto do dia a dia à sua volta e transformava em arte. No Brasil, é considerado um movimento importante porque vivemos numa situação de opressão, e a Pop Art tem uma característica muito brasileira: os artistas trabalhavam com passeatas. Eu fiz a imagem do (Che) Guevara... então, é como uma pintura de protesto.

Isso influenciou, também, na produção das artes plásticas?

A pintura de cavalete, mais tradicional, deixa de ser tão importante quando outra obra tem a mesma linguagem de uma embalagem de supermercado. Então, a partir daí, uma série de atitudes é permitida pra se fazer arte. Esse processo da Pop Art é importante, porque cria exatamente esse elo de relação entre objeto e pintura.

Dentro desse contexto, o que é arte?

Para mim, sempre, é a beleza, mas essencialmente tem que ter linguagem própria. Uma obra deve ter conteúdo e não ser, simplesmente, várias tintas colocadas sobre a tela. Quando o conjunto forma um todo, tem uma relação do que acontece com o mundo. A arte é tudo que, colocado de maneira harmônica, produza certa beleza e emoção.

Como reconhecer uma obra- prima?

A primeira coisa que tem de ser vista é a qualidade da obra, e se faz uma ruptura com o processo tradicional de arte. Depois, ver a parte histórica, se é de um artista que já tem uma trajetória, se ele pertence a algum movimento, se foi importante para a arte brasileira.

Por que resolveu se tornar artista plástico, sendo arquiteto?

Só estudei arquitetura porque não tinha uma escola de arte como tem hoje, na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) ou na ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP). Então me tornei arquiteto porque na USP tinha uma série de professores que eram artistas. Dentro da faculdade, tem um departamento que é de programação visual, então me dediquei mais a essa parte. Gosto muito de arquitetura, sou um grande espectador, conheço todos os movimentos, mas nunca fiz projetos. Entrei na faculdade, montei um ateliê e já comecei a produzir os primeiros quadros.

O que pensa sobre Andy Warhol, o precursor dessa arte?

Ele faz uma série de trabalhos conhecidos como a embalagem das Sopas Campbell ao portrait de Marylin Monroe. Mas essa coragem, historicamente, vem daquela atitude do francês Marcel Duchamp, que pegou um mictório, assinou, e mandou para um salão de arte. O Warhol é importante porque não separava a arte da vida. Era um artista ambulante que andava com uma Polaroid. Em Santos, o Neymar é um ídolo. Se fosse possível um encontro entre os dois, provavelmente teria um quadro com o Neymar, como ele faz com Pelé. É exatamente essa relação do mito com a obra. O Andy congelava as figuras e aquele momento passava a ser história.

A arte deve ser pública?

Deve, sim. Em lugares do mundo inteiro, a cada 50 metros, se vê uma obra de arte. Então, a interação do público com a obra é importante. Todo artista deve ter na sua formação o pensamento de fazer uma obra pública. Em Santos há um bom exemplo: a escultura da Tomie Ohtake, que é belíssima e está integrada à Cidade. Traz um contato maior do artista com o público.

A arte imita a vida?

É uma relação que sempre existe. Mesmo um pintor abstrato numa fase triste não vai conseguir trabalhar com cores alegres. É o reflexo da arte que segue a vida. E, ao mesmo tempo, quando você pensa num trabalho, cria um trabalho, é a vida que está influenciando a arte.

Fonte: Entrevista publicada no site do Jornal da Orla em 10/07/2011, pela colunista Clara Monforte.

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